BIA VILLA-CHAN: ARTE, FREVO, MÚSICA E CARNAVAL QUE VEM DE FAMÍLIA

 

Galo da Madrugada - Recife, PE

 

12 de junho de 2020

BIA VILLA-CHAN: ARTE, FREVO, MÚSICA E CARNAVAL QUE VEM DE FAMÍLIA

Artista pernambucana que respira música desde que nasceu, a musicalidade de Bia Villa-Chan vem de família. Do sangue de sua avó, Maria Augusta que era uma eximia pianista. E de seu e avô, Heitor Telles Villa-Chan, bandolinista apaixonado por frevo.

A cantora e multi-instrumentista que faz parte do elenco de artistas do Galo da Madrugada há três anos, acaba de lançar o seu mais novo clipe, “O Jeito de Lá de Casa”, parceria com o cantor e compositor Maciel Melo, construída no período da quarentena. O single é um xote delicioso que  marca a primeira composição autoral de Villa-Chan.

Bia Villa-Chan por Thamyres Oliveira

Conversamos com a artista sobre o novo clipe, produção durante a pandemia e claro, sobre o carnaval. Confiram a entrevista:

Pode nos falar como surgiu a sua relação com a música e a arte?

Bia Villa-Chan: Veio da minha família. Um dos fundadores do Bloco Carnavalesco Pirilampos de Tejipió foi o meu avô, que era um entusiasta e, sem dúvidas, a minha maior referência no instrumento que hoje virou uma marca registrada, uma identidade sonora no meu trabalho musical. Toco desde os 6 anos de idade, iniciando exatamente pelo bandolim, mas ao longo do tempo fui desenvolvendo habilidade para outros instrumentos de corda como violão, contrabaixo, guitarra, piano, além de instrumentos de sopro, como clarinete. Além de músicos, minha família está repleta de pintores e artistas plásticos, a exemplo do grande pintor Telles Júnior, Ester Villa-Chan, Francisco Villa-Chan.

E o relacionamento com o Galo da Madrugada, como começou?

Bia Villa-Chan: Meu encontro com o maior bloco carnavalesco do mundo foi um tanto inusitado. No desfile do ano de 2018, quando assumi de fato minha carreira musical após abandonar uma carreira acadêmica de sucesso (odontóloga, pós-graduada).

Depois de um trauma de vida e superação de um câncer, fui convidada pela Banda da Policia Militar de Pernambuco para desfilar com eles em seu trio elétrico. Foi uma experiência incrível interagir com tantos músicos competentes. O major comandante da banda chamou-me para assumir o trio exatamente no inicio do corredor do camarote oficial. Surjo de repente, portando meu bandolim e executando o clássico “Último dia, de Levino Ferreira, acompanhada pela banda. Lembro-me das expressões de espanto e admiração das pessoas, que a todo custo sacavam seus celulares para registrar o momento. Foi mágico. Após terminar o desfile, soube que os queridos Rodrigo Menezes e Rômulo Menezes foram bombardeados com perguntas de quem seria aquela “loira que estava tocando uma guitarrinha elétrica” junto com a BPM. Lógico que eles não sabiam quem eu era e me chamaram para uma conversa. Fiquei feliz com o convite para fazer parte dessa família cultural, patrimônio de Pernambuco, o Galo da Madrugada. No ano seguinte, 2019, ressurjo no desfile desse gigante cultural, agora comandando meu próprio trio elétrico, com muita honra e responsabilidade.

Já participou de quantos desfiles?

Bia Villa-Chan: Em 2020 completei três anos de desfile. Em 2018 estive como convidada da Banda da Policia Militar de PE, em 2019, foi o meu primeiro ano comandando meu próprio trio e em 2020, além do meu trio, tive como convidado o grande músico Armandinho Macêdo, o inventor da Guitarra Baiana, filho de Dodô e Osmar, inventores do trio elétrico. Também tive a grande honra de representar Pernambuco no primeiro desfile do Galo da Madrugada na maior metrópole da América Latina, São Paulo. Sem dúvida, 2020 está sendo um ano inesquecível.

Como é o preparo para o carnaval e a experiência de desfilar em um trio com a multidão do Galo?

Bia Villa-Chan: O meu preparo para o carnaval é levado com muita responsabilidade. Nosso planejamento se inicia em setembro, com conclusão de gravação de disco e, claro, escolha de música de trabalho, para embalar a folia dos nossos brincantes que vem de toda parte do mundo para prestar reverência ao maior carnaval do planeta. Além de um frevo novo, que mantém vivo nosso patrimônio imaterial, eu sempre lanço uma releitura de um grande clássico, a exemplo de ‘Lágrimas de um Folião” (Levino Ferreira) que lancei 2 semanas antes do carnaval desse ano. Além dos cuidados com qualidade artística, também incluo o cuidados com o corpo, mantendo em dias meus exercícios, cuidados com a voz, intensificando os treinos com minha fonoaudióloga, cuidados com minha alimentação e através do acompanhamento com minha nutricionista. Tudo para manter alta a imunidade. Não é moleza passar horas e horas em cima de trios elétricos. A rotina é de vários shows, poucas horas de descanso e correria frenética, bem parecida com o ritmo do frevo, que tanto idolatro rsrsrs.

Desfilar no Galo da Madrugada é um momento único na carreira de qualquer artista do mundo. É a consagração de um trabalho artístico desenvolvido com muita responsabilidade. É escrever uma página no livro da história cultural da minha terra, do meu admirado Pernambuco. É se sentir parte da minha rica cultura. Diria ainda mais, um divisor de águas! Uma manhã de carnaval que registra lembranças lindas na minha. É algo que carrego pra toda vida.

Como  está fazendo para lidar com o isolamento e a produção artística durante a pandemia?

Bia Villa-Chan: Acho que assim como todos, primeiro veio o choque de entender o quanto estamos impotentes diante de um fato gravíssimo que o mundo inteiro está passando. Esta foi, sem dúvidas, a primeira grande chance da humanidade, em anos, de demonstrar a capacidade de exercermos o autocuidado e praticarmos o cuidado com o outro. Isso nos promove a reflexão de qual o nosso papel no mundo e qual a nossa importância para as outras vidas.

Essa reflexão me trouxe uma vontade enorme de desenvolver o amor e a empatia nas pessoas através da minha música. Estou em um momento produtivo da minha carreira, compondo várias músicas que estimulam as pessoas a desenvolver o afeto. Letras e melodias envolventes. Descobrindo novas parcerias, como a com o querido poeta Maciel Melo, que divide comigo três canções. Uma que já gravamos e lançamos com o título “O Jeito de Lá de Casa”. Sempre dedico uma parte do meu ano para mergulhar no meu interior e produzir, traduzir em melodias e poesia aquilo que carrego dentro de mim. A quarentena, de certa forma, forçou-me desacelerar em um momento de auge pós-carnaval, um momento forte que vivi, com participações em carnavais de quatro cidades (Olinda, Recife, Salvador e São Paulo). Por aqui, sigo desenvolvendo projetos e planejando meu próximo disco, recheado de musicas autorais.

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