No desfile do maior bloco do mundo, este ano, uma atitude inusitada chamou a atenção de todos. A bordo do 23º trio elétrico do Galo, uma cantora, ao chegar no corredor principal do trajeto – na Praça Sérgio Loreto, em frente ao Camarote Oficial – desceu do veículo gigante e foi cantar no meio da multidão. Foi a maneira que Silvana Salazar, natural de Belém do Pará e cidadã recifense desde fevereiro de 2023, encontrou pra extravasar a emoção por sua tão sonhada estreia no time de atrações do maior espetáculo de rua do planeta, naquele inesquecível 10 de fevereiro deste ano.

“Foi uma mistura de gratidão e esperança. O Galo, sem dúvida, foi um divisor de águas na minha carreira. Acho que também deixei minha marca, pois, até então, não lembro de alguém que não estava (cantando) em cima do trio no corredor da apoteose”, recorda, aos risos, a paraense e residente da capital pernambucana há pouco mais de uma década, que se orgulha: “essa sou eu, Salazar improviso, Salazar visceral, Salazar criatividade, Salazar musical, Salazar adrenalina, Salazar entrega, Salazar verdade”.

Silvana Raquel Salazar de Araújo além de cantora, também é fonoaudióloga e acupunturista. Conhecida, popularmente, como a “Rainha dos Casamentos”, em razão das inúmeras festas de matrimônio nas quais é chamada para empresar seu talento musical, a artista tem como marca, em todos os eventos que participa, a forma inovadora e irreverente com a qual conduz suas apresentações. Do figurino ao repertório e, inclusive, nas brincadeiras e vocabulário utilizados na apresentação, tudo é pensado e personalizado de acordo com a festa e com o intuito principal de integrar o público ao espetáculo.

Com o maior bloco do mundo não foi diferente. “Cuidei de todos os detalhes, desde a minha roupa que representava o fogo, o fervilhar, a chama da Salazar, cabeça e braços com detalhes que lembrassem a imponência do Galo, até o repertório impecável, tudo nos ritmos pernambucanos”, detalha Silvana, que não conteve a emoção na estreia em seu próprio trio no gigante do carnaval. “Em muitos momentos, fui às lágrimas mesmo! E, ao entrar no corredor, não hesitei em descer e trocar emoção com folião”, lembra.

Uma mistura de talentos e um amor à arte que veio de berço, já que a árvore genealógica da paraense, tanto paterna quanto materna, é composta de artistas. “Minha avó paterna, Manoela Araújo, era cantora lírica e professora no conservatório Carlos Gomes. Em Belém, também existe um teatro em homenagem ao meu tio avô materno, Altino Pimenta, conhecido fora do país, inclusive”, cita, orgulhosa, a cantora, que começou a cantar ainda criança, em coral de igreja, e tinha como referências musicais artistas de sua terra natal e também estrelas internacionais como Elvis Presley e Michael Jackson. 

Profissionalmente, começou em uma banda com outras quatro garotas – uma espécie de “Spice Girls”, como ela própria compara -, tocando em bailes e barzinhos. Daí, não parou mais: o primeiro CD solo, ainda na adolescência, com a participação de nomes como Luiz Caldas e Cezzinha; participação nas bandas dos programas de Fausto Silva e Gilberto Barros; semifinalista em concurso no programa do Raul Gil… Podemos dizer que a moça é dona de um currículo artístico intenso e diverso.

Dona do bordão “Chama Salazar”, a cantora também já acompanhou, no Galo da Madrugada, artistas como Alceu Valença, Banda Calypso e Som da Terra, nunca deixando de lado o sonho de comandar seu próprio trio no maior bloco do mundo. “Amo o carnaval e o Galo representa tudo o que a música é na minha vida. Muitos já me cobravam e, este ano, finalmente, veio o convite. É um bloco que é pura energia e emoção, é a entrega de um povo à sua cultura”, finaliza a talentosa, determinada e grande revelação deste ano do desfile do maior bloco do mundo.

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