MESTRE NA ARTE DA MÚSICA E DA CIDADANIA. MORRE MAESTRO LIMA NETO, FUNDADOR DA ESCOLA DE MÚSICA DO GALO

 

Galo da Madrugada - Recife, PE

 

9 de maio de 2022

MESTRE NA ARTE DA MÚSICA E DA CIDADANIA. MORRE MAESTRO LIMA NETO, FUNDADOR DA ESCOLA DE MÚSICA DO GALO

A família Galo da Madrugada se despede de um importante integrante e parceiro, tanto nos quesitos musical e cultural quanto nas iniciativas sociais do Clube. Foi enterrado na tarde de hoje (09), no Cemitério Parque das Flores, o corpo do Maestro Lima Neto, líder da Orquestra Metais e fundador da escolinha de música do Galo – que, há doze anos, oferece aulas gratuitas de iniciação musical a crianças e adolescentes, em sua maioria, de comunidades carentes do Recife. Lima Neto, que havia completado 67 anos no dia 07 de março, morreu na manhã de ontem (08), no Hospital do Exército, em decorrência de uma infecção generalizada, após sete meses internado.

A despedida contou com a presença de músicos da Orquestra Mirim do Galo da Madrugada – formados a partir das aulas na escolinha, com o maestro -, do porta-estandarte do bloco, Fernando Zacarias (que trouxe o símbolo maior da agremiação, para a homenagem), do presidente e vice-presidente do clube, Rômulo Meneses e Rodrigo Menezes, respectivamente, e dos cantores Nonô Germano e Dani Verolli, além de músicos que conviviam com Lima.

“A importância de Lima Neto é imensa. Era uma pessoa muito dedicada, responsável e comprometida com tudo o que fazia. Começou tocando em trios e na sede do Galo, depois teve a ideia de criar a escola de música. Ele quem idealizou e assumiu, digamos, a paternidade do projeto, levou à frente. Se não fosse ele, não teria ido pra frente”, afirmou Rômulo Meneses, que abraçou a ideia do maestro e criou, em setembro de 2010, a iniciativa social que formou dezenas de jovens músicos no espaço que funciona na antiga sede do bloco, também na Rua da Concórdia. Em março de 2018, o centro de ensino passou a se chamar Escola de Música Maestro Lima Neto. “Uma homenagem mais do que merecida”, pontua Meneses.

Natural do município de Batalha, região Norte do Piauí, Manoel da Costa Lima Neto mudou-se para o Recife ainda moço, aos 24 anos, por conta da carreira de sargento no Exército. Bem antes disso, a música já fazia parte da vida do jovem, que, por volta dos dez anos de idade, já acompanhava o avô tocando percussão nas festas da região. Talento que foi se aperfeiçoando com o tempo. Na Capital pernambucana, Lima, já saxofonista, conheceu o maior bloco de carnaval do mundo e passou a compor a orquestra do bloco, onde tocou por mais de duas décadas.

“É uma figura extremamente simples, modesta e de um caráter fabuloso. Tudo de bom você podia encontrar nele: simplicidade, honestidade, uma pessoa difícil de encontrar outra igual. Lima Neto foi um expoente na música, no trabalho social, um cara ímpar que merece todas as homenagens possíveis. Seu filho (Jorge Lima, também músico) segue o mesmo caminho e, certamente, será o sucessor do pai na nesse legado”, acrescenta o presidente do Galo.

Natural do Piauí, músico veio para o Recife no final da década de 1970, por conta da carreira militar. No Galo, foram cerca de duas décadas como músico nos trios e em eventos na sede

À frente da Orquestra Metais e da Escola de Música nos últimos anos – quando Lima Neto já se encontrava com problemas de saúde -, Jorge confirma a alegria do pai em ter conseguido compartilhar sua arte com quem sonhava aprendê-la: “foi uma grande realização. Com a ajuda do Galo, formou vários jovens músicos, que, hoje, estão tocando por aí como gente grande. Isso foi de uma alegria enorme pra ele. Seu legado nunca vai ser esquecido por aqueles que, direta ou indiretamente, tiveram sua ajuda”, conta.

“Ele é e sempre será o meu ídolo”

Ninguém melhor para avaliar a importância do trabalho social de Lima Neto – à frente da escolinha criada, em parceria com o Galo da Madrugada, para iniciar crianças e adolescentes na arte da música – do que quem foi agraciado pela iniciativa. Hoje, com 20 anos e saxofonista profissional, Vitor Bispo lembra de quando, aos onze, pôde realizar um sonho antigo: “queria ser músico, aprender a tocar, pedia sempre isso ao meu pai”.

Vitor, hoje com 20 anos e saxofonista profissional , ingressou na Escola de Música do Galo aos 11, quando realizou o sonho de aprender música: ” Posso dizer que o maestro foi fundamental na minha formação”.

Tamanha insistência, o pai do garoto foi atrás de um local onde o filho pudesse ingressar na arte das notas e dos acordes. “Indicaram a ele o Maestro Lima Neto. Ele foi lá, na sede (do Galo), o conheceu e contou toda história. Daí, o maestro falou: ‘pode trazer o menino aqui pra escolinha’. Cheguei lá, fiz um teste, não sabia de nada. Depois, foi só sucesso”, lembra Bispo.

Da Escola de Música do Galo, Vitor saltou para o Conservatório Pernambucano de Música, onde, faz questão de dizer, chegou já com um nível adiantado de conhecimento e  avançou algumas etapas. “Por já ter aprendido muita coisa lá na escolinha, terminei (o curso no Conservatório) mais rápido que o normal”, diz. Foram cerca de oito anos tendo aulas com Lima Neto.

Hoje, Vitor domina uma série de outros instrumentos – como teclado, violão, cavaquinho e pandeiro -, mas, coincidência ou não, foi o saxofone (mesmo instrumento de Lima, a quem Vítor chama, carinhosamente, de “padrinho”) que o jovem músico escolheu para dedicar-se ao máximo e com o qual tem feito sua carreira, pelas orquestras e eventos por onde já passou.

“Posso dizer que o maestro foi fundamental na minha formação como músico, foi a minha base profissional, sem ele eu não estaria onde estou e não seria o que sou. Foi um segundo pai, tanto na música quanto no sentimento mesmo. Sempre acolheu, não só a mim, como a todos. Tinha um coração enorme, gostava muito de ajudar. Ele é e sempre será o meu ídolo”, revela, emocionado, o músico.

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