O Galo da Madrugada celebra o cinquentenário de nascimento de Chico Science no Carnaval 2016

 

Galo da Madrugada - Recife, PE

 

21 de julho de 2015

O Galo da Madrugada celebra o cinquentenário de nascimento de Chico Science no Carnaval 2016

Agremiação anunciou, nesta terça-feira (21), homenagem ao músico pernambucano em seu 39º desfile, que acontecerá dia 6 de fevereiro, no sábado de Zé Pereira

Por AP Comunicação Estratégica

Há quase cinquenta anos, o dia 13 de março de 1966 se tornaria uma data emblemática para a música pernambucana. Nesse dia, nascia um dos responsáveis por mudar significativamente o cenário artístico local: Francisco de Assis França, mais conhecido pela alcunha de Chico Science, um homem e músico à frente de seu tempo, considerado um verdadeiro “cientista dos ritmos”. E como não poderia deixar de ser, o Clube de Máscaras O Galo da Madrugada vai lembrar essa data especial e prestar uma homenagem ao cantor e compositor em seu 39° desfile, dia 6 de fevereiro de 2016, quando o maior bloco da Terra sairá às ruas do Recife com o tema “Galo, Frevo e Manguebeat – Homenagem a Chico Science”.

Nesta terça-feira (21), o presidente da agremiação, Rômulo Meneses, anunciou a novidade em coletiva para a imprensa. “A homenagem que o Galo da Madrugada fará é, sobretudo, um reconhecimento à genialidade, à capacidade inovadora e à ousadia que Chico Science, assim como seus parceiros, teve ao unir uma diversidade de culturas e ritmos. O movimento “Manguebeat”, por exemplo, que promoveu a interação da cultura popular nordestina com o pop mundial, mesclando ritmos tipicamente nossos como – frevo, coco, embolada, maracatus e ciranda -, com outros como rap, rock, funksoul”, enfatiza.

Tema do desfile 2016 foi anunciado em coletiva de imprensa na sede do Galo, com a presença da filha de Chico e representantes das bandas Nação Zumbi e Mombojó. Fotos: Anderson Maia

Caçula de uma família de quatro filhos, Chico Science passou a infância e a adolescência no bairro do Rio Doce, em Olinda-PE, onde catava caranguejos no mangue para vender na feira. Antes de ganhar projeção no cenário musical brasileiro no início dos anos 1990 com o conjunto Chico Science & Nação Zumbi (CSNZ) e a chamada Cena Mangue do Recife, Science se dedicou ao grupo Legião Hip Hop, uma das principais turmas de dança de rua da cidade em meados da década 80. Ele era fã de James Brown, Grandmaster Flash, Kurtis Blow e outros artistas importantes da soul-music norte-americano.

Foi da junção de alguns grupos musicais de Olinda, como Loustal e Afro de Percussão Lamento Negro, que Chico deu os primeiros passos na formação da Nação e do movimento “Manguebeat”.  Science foi considerado um alquimista (pós) moderno da música por mesclar ritmos estrangeiros como rock’n roll e o hip-hop com elementos da cultura regional de Pernambuco, como o maracatu rural. Suas ideias e projetos, a exemplo do manifesto “Caranguejos com cérebro”, escrito em parceria com Fred Zero Quatro, serviram de inspiração para várias gerações de músicos de Pernambuco, do Brasil e ao redor do mundo.

Líder da banda  Chico Science & Nação Zumbi, Chico deixou dois discos gravados – “Da Lama ao Caos” e “Afrociberdelia”, tendo sua carreira precocemente encerrada por um acidente de carro numa das vias que liga Olinda ao Recife, em 1997, aos 30 anos. Seus dois álbuns foram incluídos na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone (2008), elaborada a partir de uma votação com 60 jornalistas, produtores e estudiosos da área. Numa época desfavorável para a música pernambucana, que andava em baixa, sem muitos lançamentos após os sucessos de Alceu Valença e Geraldo Azevedo na época da Tropicália, Chico Science e seus contemporâneos protagonizaram uma revolução cultural, chamando novamente a atenção do País para o que se fazia no Nordeste.

A coletiva de imprensa desta terça-feira também conta com a presença da única herdeira de Science, Lula Lira (apelido do nome Louise Taynã), que ressalta o amor do pai pelo Carnaval e pela cultura de Pernambuco. “Fiquei muito feliz com o convite do Galo para a homenagem ao meu pai. Ele amava Carnaval e prezava muito pelo resgate e preservação da cultura do nosso Estado. É preciso olhar mais dentro da gente, do que é nosso, e vivenciar de fato essa diversidade não só durante o Carnaval, mas o ano todo”, comenta Lula.

SOBRE O MANGUEBEAT

O estilo musical inovador surgiu no Recife por volta dos anos 1990. O termo Manguebeat (algo como “ritmo do mangue”, “batida do mangue”) teve origem da junção da palavra mangue, que designa um ecossistema típico da costa do Nordeste brasileiro e da cidade do Recife, com a palavra beat, do inglês, que significa batida, mas que também remete à linguagem dos códigos binários utilizados na informática: beat, bits.

De uma mistura de rock, hip-hop e música eletrônica, o Manguebeat surgiu para ser uma música de contestação, para protestar sobre o descaso sofrido pela cultura pernambucana, da desigualdade entre as pessoas e também sobre o abandono sofrido pelo mangue no Estado. O caranguejo, forma de vida típica desse ecossistema (ou da lama dos manguezais), que é capturado e vendido por trabalhadores da região (a exemplo de Chico Science em sua infância), tornou-se o símbolo do Manguebeat.

Os principais idealizadores dessa cena musical foram Chico Science, Fred Zero Quatro, Renato L, Mabuse e Héder Aragão. Somaram-se a eles Jorge Du Peixe, Pupilo, Lúcio Maia, Toca Ogan, Gilmar Bola 8, Otto, entre outros. O cenário cultural do Estado era totalmente desfavorável, mas havia um sentimento de mudança dentro daqueles jovens pernambucanos. A proposta: desorganizar a música brasileira, misturar tendências, para só então reorganizá-la, como bem lembra a letra de “Da Lama ao Caos”, disco simbólico para o movimento. Mesmo depois da morte de Chico Science, o movimento continua vivo e forte, sempre ligado ao seu papel social e representado por bandas como Mundo Livre S/A, Nação Zumbi, Sheik Tosado e Eddie. Inclusive, muitas homenagens foram prestadas ao movimento, como é o caso da estátua de caranguejo, construída na rua da Aurora, bairro do Recife, área central da capital pernambucana.

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